segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Lições de mestres

Mestre, a grosso modo, é aquele que ensina, que detém um conhecimento único e por isso é respeitado. Mas não precisa ser “letrado” para ser mestre. Alagoas é um celeiro de grandes mestres populares, mas infelizmente não são devidamente respeitados por isso, apesar de todo o seu conhecimento das coisas mais simples de nosso povo, que até para eles não passa de uma “brincadeira”, que é a forma a que se referem às mais diversas manifestações populares como reisado, guerreiro, pastoril, coco etc…, por esta razão também são chamados por “brincantes”.

O conhecimento formal é apenas (desculpe o trocadilho) uma formalidade, pois a grande maioria é analfabeta, mas nem por isso deixaram de conquistar o respeito Brasil afora. São inúmeros os casos de mestres que são convidados para apresentações e palestras em locais dos mais remotos aos mais conhecidos no Brasil e que muitas vezes são relegados ao esquecimento ou a pequenos eventos de alusão ao folclore.

A população em geral conhece muito pouco os nossos mestres e suas conquistas, muitas vezes pela falta de divulgação, apesar que hoje a informação está mais acessível graças à internet e pela mudança de consciência desta nova geração de jornalistas. Me formei em Jornalismo em 1998 e graças a uma bolsa de extensão da Pró-reitoria de extensão da UFAL em meu terceiro ano de curso, participei de um trabalho de resgate do Fandango do Pontal promovido por uma parceria entre a universidade e a Secretaria Estadual de Cultura que à época tinha o saudoso Ranilson França à frente. Foi quando conheci Mestre Isaldino, o grande responsável por essa retomada do Fandango. Foi um trabalho que durou uns seis meses e foi quando mantive o meu primeiro contato mais íntimo com a cultura popular… e foi determinante para o trabalho que desenvolvo hoje em dia.

O que me encantou e me encanta na cultura popular é a simplicidade com que tudo acontece, e foi um dos mais simples e ao mesmo tempo um dos mais fantásticos mestres da cultura popular que me fez respeitar e admirar essa arte mais ainda, há dez anos: Mestre Verdelinho, com quem tive o prazer de aprender, brincar, freqüentar sua casa e a trabalhar. Em 2006 produzi, com a direção musical de Jurandir Bozo, o seu único CD solo: Unirversando. Verdelinho era um exemplo de mestre, de pessoa, de profissional e de compositor, com um coração de ouro.

Como fiz com Verdelinho, pude conviver e trabalhar também com outros grandes mestres como: Mestre Venâncio, Mestra Hilda, Mestre Benon, Tororó do Rojão, Nelson da Rabeca, José Cícero, Franklin do pífano, Chau do Pife. Todos, pessoas muito simples, mas com uma paixão pela cultura como poucos. Aprendi com eles que apesar de mestres, todos tem os mesmos anseios e necessidades de qualquer outro. Sempre pude manter uma relação de muito respeito e de amizade, sem o distanciamento que muitos mantém, um dos aprendizados com mestre Ranílson França.

Infelizmente a maioria do que chamo de “meus mestres” já se foram: Isaldino, Verdelinho, Hilda, Venâncio, Franklin dos pífanos, além do próprio Ranilson, além de Dona Augusta, Maria do Carmo, Virgínia, Mestre Jaime, Fernando da Ilha do Ferro dentre outros. Todos deixaram grandes lições mas, a mais importante é a de que temos que valorizá-los enquanto vivos e aprender com eles para que não percamos contato com as mais simples manifestações populares fundamentais para a nossa própria identidade e para a nossa história.

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