Mestre, a grosso modo, é aquele que ensina, que detém um conhecimento único e por isso é respeitado. Mas não precisa ser “letrado” para ser mestre. Alagoas é um celeiro de grandes mestres populares, mas infelizmente não são devidamente respeitados por isso, apesar de todo o seu conhecimento das coisas mais simples de nosso povo, que até para eles não passa de uma “brincadeira”, que é a forma a que se referem às mais diversas manifestações populares como reisado, guerreiro, pastoril, coco etc…, por esta razão também são chamados por “brincantes”.
O conhecimento formal é apenas (desculpe o trocadilho) uma formalidade, pois a grande maioria é analfabeta, mas nem por isso deixaram de conquistar o respeito Brasil afora. São inúmeros os casos de mestres que são convidados para apresentações e palestras em locais dos mais remotos aos mais conhecidos no Brasil e que muitas vezes são relegados ao esquecimento ou a pequenos eventos de alusão ao folclore.
A população em geral conhece muito pouco os nossos mestres e suas conquistas, muitas vezes pela falta de divulgação, apesar que hoje a informação está mais acessível graças à internet e pela mudança de consciência desta nova geração de jornalistas. Me formei em Jornalismo em 1998 e graças a uma bolsa de extensão da Pró-reitoria de extensão da UFAL em meu terceiro ano de curso, participei de um trabalho de resgate do Fandango do Pontal promovido por uma parceria entre a universidade e a Secretaria Estadual de Cultura que à época tinha o saudoso Ranilson França à frente. Foi quando conheci Mestre Isaldino, o grande responsável por essa retomada do Fandango. Foi um trabalho que durou uns seis meses e foi quando mantive o meu primeiro contato mais íntimo com a cultura popular… e foi determinante para o trabalho que desenvolvo hoje em dia.
O que me encantou e me encanta na cultura popular é a simplicidade com que tudo acontece, e foi um dos mais simples e ao mesmo tempo um dos mais fantásticos mestres da cultura popular que me fez respeitar e admirar essa arte mais ainda, há dez anos: Mestre Verdelinho, com quem tive o prazer de aprender, brincar, freqüentar sua casa e a trabalhar. Em 2006 produzi, com a direção musical de Jurandir Bozo, o seu único CD solo: Unirversando. Verdelinho era um exemplo de mestre, de pessoa, de profissional e de compositor, com um coração de ouro.

Infelizmente a maioria do que chamo de “meus mestres” já se foram: Isaldino, Verdelinho, Hilda, Venâncio, Franklin dos pífanos, além do próprio Ranilson, além de Dona Augusta, Maria do Carmo, Virgínia, Mestre Jaime, Fernando da Ilha do Ferro dentre outros. Todos deixaram grandes lições mas, a mais importante é a de que temos que valorizá-los enquanto vivos e aprender com eles para que não percamos contato com as mais simples manifestações populares fundamentais para a nossa própria identidade e para a nossa história.
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